O Manejo Integrado de Pragas (MIP) tem sido bastante eficaz no combate à ameaças fitossanitárias e na promoção da sustentabilidade da produção agrícola. No Brasil, essas ameaças estão cada vez mais presentes nas lavouras. No entanto, combatê-las e impedir que causem grandes prejuízos é possível.
Na natureza, um meio ambiente sadio e equilibrado oferece resistência ao surgimento e à proliferação de organismos que causem desequilíbrio populacional das espécies e, consequentemente, danos às culturas.
Ao utilizar corretamente as estratégias de manejo é possível manter o equilíbrio do ambiente, preservando os inimigos naturais das pragas e impedindo prejuízos econômicos. Para isso é preciso introduzir uma nova rotina na lida diária da produção agrícola: o Manejo Integrado de Pragas.
Quando bem empregado, o procedimento diminui consideravelmente o uso de defensivos químicos, contribuindo para uma produção agrícola cada vez mais sustentável.
O que é Manejo Integrado de Pragas (MIP)
O MIP é um conjunto de medidas que visa manter as pragas abaixo do nível de dano econômico (NDE). Essas medidas são aplicadas quando a densidade populacional da praga atinge o nível de controle (NC).
Quando a população de insetos prejudiciais se mantém abaixo do NC, ela está em nível de equilíbrio (NE). Esse conceito foi instituído na década de 1960 pela comunidade científica para a otimização do controle de pragas agrícolas (ácaros, insetos, doenças e plantas daninhas).
O termo Manejo Integrado de Pragas refere-se à integração de diferentes ferramentas de controle. São elas:
- Produtos químicos
- Agentes biológicos (predadores, parasitoides e entomopatógenos – bactérias, fungos ou vírus)
- Variedades de plantas resistentes a pragas
- Manejo cultural
- Feromônios
- Plantas iscas
- Outras.
Portanto, o MIP envolve o emprego conjunto de todas essas ferramentas, de maneira planejada e harmoniosa.
“É bom lembrar que o objetivo do manejo integrado não é de eliminar as pragas, mas reduzir a sua população para abaixo do nível de controle.”
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Importância do manejo integrado de pragas
O manejo integrado de pragas é importante porque:
- Controla pragas da lavoura;
- Mantém a biodiversidade do agroecossistema;
- Preserva inimigos naturais;
- Otimiza a utilização de inseticidas químicos;
- Diminui o impacto ambiental;
- Preserva a biotecnologia no campo;
- Reduz perdas da lavoura;
- Aumenta a produtividade.
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Estrutura do Manejo Integrado de Pragas
Podemos pensar no MIP como sendo a construção de uma casa. O alicerce (decisões de manejo) é formado pelas condições do ambiente observado (agroecossistema), do nível de controle das pragas, do monitoramento (amostragem) e de informações taxonômicas da praga (espécie), sua biologia e ecologia.
Já os pilares do MIP são os tipos de controle que podemos utilizar, são eles: controle cultural, controle biológico, controle comportamental, controle genético, controle varietal e controle químico.
Alicerce do manejo integrado de pragas
Quando a presença da praga atingir níveis críticos (nível de controle), é necessário decidir qual o melhor caminho para controlá-la. Ou seja, quais as táticas do manejo integrado de pragas terão que ser aplicadas na lavoura. Para identificarmos a situação da praga na lavoura devemos realizadas as seguintes atividades que compõem o alicerce do MIP:
Observação das condições do ambiente (Agroecossistema)
A avaliação das condições ambientais ou agroecossistema nada mais é do que conhecer a lavoura. Para isso, deve-se determinar o estágio de desenvolvimento da cultura, as condições nutricionais da planta, os fatores climáticos, as principais pragas que potencialmente podem ser prejudiciais e a presença de inimigos naturais.
“O conhecimento da lavoura e das pragas permite identificar o momento em que uma praga pode causar mais prejuízos, dessa forma auxiliar na tomada de decisão de táticas de controle.”
Determinação do nível de controle
Conhecer o nível de controle, ou seja, o nível abaixo daquele que a praga causa dano irá determinar a melhor tática de manejo e o tempo mais adequado para aplicação dessa tática.
Monitoramento (amostragem)
O monitoramento deve ser realizado periodicamente, desde a instalação da cultura em campo até a colheita, inspecionando-se diferentes estruturas da planta cultivada (raízes, folhas, hastes, frutos etc.).
Quando falamos de monitoramento, queremos dizer amostragens frequentes das populações de insetos para sabermos se é chegado o momento em que essa população está causando prejuízo ou não. Quando já atingiu-se esse ponto, o inseto passa a ser considerado praga. Havendo assim a necessidade de se fazer controle e para isso existem vários métodos.
Informações taxonômicas
A correta identificação das espécies é fundamental para avaliar a melhor estratégia para o controle efetivo da praga-alvo. Para isso, é necessário observar a ocorrência dela nas fases de ovos, lagartas e mariposas. Ademais, precisamos também monitorar as alterações nas plantas. Resumindo, devemos obter todas as informações que nos ajudam a entender qual é a praga que está na lavoura.
É fundamental também determinar quais são os inimigos naturais das pragas. Assim, recomenda-se que todos os profissionais envolvidos com a tomada de decisão para o controle de pragas sejam treinados, pois há grande variedade de espécies que podem causar prejuízos ao campo de produção.
Técnicas (Pilares) do manejo integrado de pragas
Ao conhecermos a situação da praga na lavoura, podemos determinar as táticas de manejo que serão utilizadas. Essas táticas correspondem aos pilares do manejo integrado de pragas que são:
Controle cultural
Esse controle deve ser uma ação preventiva e permanente na lavoura. Independentemente da presença ou não de pragas. Consiste em reduzir a disponibilidade de alimentos para a praga, evitando assim sua explosão populacional na entressafra.
Dentre os métodos de controle cultural temos:
- Rotação de culturas
- Escolha da época de plantio e colheita
- Destruição de restos de cultura anterior
- Cultura no limpo
- Poda
- Controle da adubação e irrigação
- Plantio direto e outros sistemas de cultivo.
Controle biológico
O controle biológico consiste em ações para preservar os inimigos naturais para controle das pragas, efetuar liberação de predadores e/ou parasitoides ou utilizar inseticidas formulados com Bt ou baculovírus.
Uma das formas de conservar os inimigos naturais é a utilização de inseticidas químicos seletivos, que matam as pragas, porém têm pouco efeitos sobre os inimigos naturais. Outra forma é a liberação ou pulverização desses inimigos naturais no campo.
Controle comportamental
Consiste na exploração de sinais químicos entre os seres vivos. Dentre esses, temos os feromônios, plantas repelentes, armadilhas e semioquímicos. Os feromônios podem ser utilizados em conjunto com armadilhas para atrair machos e realizar a coleta massal de insetos e podem também impedir encontro entre machos e fêmeas, interrompendo, o acasalamento.
Armadilhas consistem na captura massal de insetos para controle populacional. Podem ser luminosas, que atraem os insetos que possuem atividade noturna e são atraídos pela luz (besouros, mariposas, percevejos, cigarrinhas, moscas e etc). Existem também as adesivas, cartões amarelos compostos por resinas e cera e prendem os insetos assim que ocorre o contato.
Controle genético
Esse método refere-se ao controle da população de praga mediante a manipulação de seu genoma. Essa tática é seletiva e objetiva a redução da população de pragas por meio da redução do potencial reprodutivo delas.
É o caso, por exemplo, do mosquito da dengue geneticamente modificado (GM) para que os machos sejam estéreis e, uma vez liberados no ambiente, concorram com os machos não transgênicos pelas fêmeas. O controle genético, entretanto, ainda não é amplamente utilizado.
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Controle varietal
Consiste no uso de variedades transgênicas que expressam proteínas inseticidas (Bt) para o manejo eficiente da praga. A tecnologia Bt representa uma importante ferramenta para o manejo integrado de pragas nas culturas de soja, milho, algodão e cana. Entretanto, para que sua eficácia seja alcançada, alguns pontos precisam ser levados em consideração.
O primeiro deles diz respeito à escolha de híbridos e cultivares que sejam adaptados e recomendados para cada região. Um segundo ponto diz respeito à aplicação de boas práticas agronômicas para manejo das culturas Bt. Dessa forma, o risco de que insetos resistentes à essa tecnologia sejam selecionados é reduzido.
Controle químico
Consiste na utilização de inseticidas seletivos que atingem somente as pragas, mantendo vivos os inimigos naturais delas e polinizadores. No entanto, para evitar o desenvolvimento de insetos resistentes a esses produtos, deve-se também prestar atenção na rotação de ingredientes ativos e de modos de ação desses produtos.
O conjunto de técnicas do MIP favorece a volta do equilíbrio natural do meio ambiente que, por sua vez, aumenta a resistência biótica e evita que novas pragas se estabeleçam.