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Refúgio Agrícola: tudo o que você precisa saber para garantir a segurança da sua lavoura

by Gustavo Magalhães

O Refúgio Agrícola consiste na plantação de um percentual de sementes não-Bt em meio às transgênicas. Ocorre nas lavouras Bt de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.

É uma das Boas Práticas Agronômicas que visa a sustentabilidade do sistema de produção e a proteção da rentabilidade do agricultor, uma vez que atrasa a evolução da resistência dos insetos às proteínas inseticidas expressas pelas culturas Bt.

Refúgio agrícola

Ao adotar a área de refúgio o produtor permite que insetos não resistentes sobrevivam, cruzem com os resistentes e gerem descendentes que continuarão sendo sensíveis à tecnologia.

A adoção do refúgio, portanto, preserva a eficiência da semente Bt.

Atualmente a técnica é uma recomendação. A não adoção pode resultar em perda de eficiência da tecnologia Bt, o que significa aumento nos custos de controle de insetos e também perda de produtividade.

 


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Como o refúgio agrícola ajuda no combate à resistência?

A adoção do refúgio agrícola serve para retardar e até evitar o desenvolvimento de populações de insetos-praga resistentes às proteínas inseticidas das culturas Bt. A técnica é pensada para que os agricultores continuem usufruindo dos benefícios da tecnologia a longo prazo.

Assim como existem insetos suscetíveis à proteína Bt, há uma minoria que é naturalmente resistente à ela. Se o produtor optar por plantar apenas sementes Bt, poderá notar, inicialmente, um controle efetivo dos insetos. Contudo, a médio prazo, essa escolha faz com que os indivíduos que são naturalmente resistentes à proteína sejam selecionados e, com o passar do tempo, se tornem maioria.

Caso o refúgio agrícola não seja adotado em lavouras de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar Bt,  os indivíduos resistentes serão selecionados, resultando na perda de eficiência da tecnologia Bt e, consequentemente, na redução de produtividade.

Como funciona o refúgio agrícola

O plantio de áreas de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar que não expressam a proteína Bt garante que alguns insetos sensíveis sobrevivam, cruzem com as espécies resistentes e originem uma prole que também será controlada pelas culturas  Bt.


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Assim, o uso da cultura Bt deve sempre estar ligado ao sistema de refúgio. As práticas são complementares e, quando praticadas em conjunto, garantem um melhor resultado para o agricultor.

 

Como adotar o refúgio agrícola?

O agricultor deve seguir passos específicos para adoção do refúgio.

  1. Deve ser realizado na mesma propriedade e na mesma época de plantio da cultura Bt;
  2. Deve ser mantido, preferencialmente, o mesmo sistema de produção;
  3. As plantas devem ser da mesma espécie, possuindo porte e ciclo similares aos das plantas BT.

A depender da semente Bt plantada, a porcentagem da área de refúgio recomendada em relação a área total cultivada na propriedade e diferente. Para o algodão, soja e cana recomenda-se 20% e para o milho o indicado é 10%.

Percentual do Refúgio Agricola

Ao implantar o refúgio agrícola é preciso respeitar um limite máximo de 800 metros de distância entre a lavoura transgênica e área de refúgio, independentemente da cultura. Essa estratégia possibilita que os insetos existentes na plantação convencional cruzem com os indivíduos originários da área de cultivo transgênica, uma vez que ambos podem transitar entre as duas áreas, reduzindo o número de insetos resistentes à bactéria Bacillus thuringiensis.

A localização deve ser cuidadosamente escolhida, visando garantir o maior número possível de acasalamentos entre os insetos das duas áreas. É importante ressaltar que o produtor não deve considerar as áreas de propriedades vizinhas como área de refúgio, mesmo que também adotem a técnica.

três principais modelos para a adoção do refúgio agrícola: a bordadura, o bloco e perímetro.

Adotar Refúgio Agrícola

Cuidados Necessários

O recomendado é que seja feita uma dessecação pré-plantio aproximadamente um mês antes da data do plantio. Isso evita a presença de massa verde no momento da semeadura. Em alguns casos, pode ser necessária uma segunda dessecação, para que sejam eliminadas as plantas daninhas de uma primeira fase.

O agricultor deve ter cuidado também na hora de escolher a semente que vai plantar. O uso de sementes piratas ou ilegais pode reduzir o desenvolvimento e a produtividade da lavoura, levando à diminuição sua produtividade. A propagação de plantas daninhas e insetos pragas também pode ser uma consequência. Por isso, é fundamental o uso de sementes certificadas.

O tratamento de sementes deve constar entre as práticas agrícolas adotadas em campo. Consiste em aplicar ingredientes químicos e organismos biológicos nas sementes. O objetivo é controlar e afastar pragas que possam comprometer a germinação das semente e o vigor da plantação, resultando na perda de produtividade. Além disso, tecnologias aplicadas à semente também são consideradas tratamento: herbicidas, agentes de proteção, reguladores de crescimento, revestimento, micronutrientes e corantes.

 

Monitoramento da lavoura

Uma vez instalada a área de refúgio, a prática do monitoramento indica a situação das pragas, avalia os danos e prejuízos e ajuda a definir quando o defensivo agrícola deve ser aplicado. O monitoramento faz parte do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que, aliado à área de refúgio, constitui a base para a sustentabilidade da tecnologia Bt.

Monitorar a plantação é fundamental para a produtividade e deve ser feito, pelo menos, uma vez por semana. No caso da soja, por exemplo, uma das técnicas recomendadas é a de pano-de-batida. A amostragem permite identificar quais o tipos de praga encontrados e ajuda na escolha do melhor método de controle.

Juntamente com o MIP, a implementação do programa de Manejo de Resistência de Insetos (MRI), conjunto de medidas que têm como objetivo prevenir a seleção de insetos resistentes, é essencial para o controle de pragas.

 

MIP

Manejo Integrado de Pragas, ou MIP, é um conjunto de medidas usado para otimizar o controle de pragas agrícolas, doenças a plantas daninhas. A técnica, que começou a ser empregada no Brasil na década de 1980, é originária dos Estados Unidos. Considerada fundamental para a sustentabilidade do refúgio agrícola, ela minimiza os riscos ambientais e mantém o equilíbrio do ecossistema.

O MIP é dividido nas seguintes ferramentas de controle:

  • produtos químicos
  • agentes biológicos (predadores, parasitas bactérias, fungos e vírus)
  • extratos de plantas
  • feromônios
  • plantas BT
  • manejo cultural
  • plantas-iscas

Com organização, planejamento e utilização controlada, o uso dessas técnicas garante o emprego correto do programa de MIP. O monitoramento de pragas independe do uso das ferramentas de controle, ou seja, não deve ser excluído do processo. A implantação do MIP ajuda a retardar e até a evitar o desenvolvimento de pragas resistentes, além de reduzir a utilização de defensivos agrícolas.

Recomenda-se fazer uma adoção simultânea dessas técnicas para garantir a proteção da lavoura.

MRI

O Manejo de Resistência de Insetos (MRI) está inserido dentro do MIP, e também é adotado para evitar a evolução da resistência dos insetos-praga. O refúgio é uma das técnicas indicadas no programa de MRI. Além disso, o uso de inseticidas deve ser mantido caso a infestação de pragas atinja um nível crítico, causando danos econômicos.

Para que se tenha efetividade no controle de insetos dos insetos resistentes é necessário observar os seguintes fatores:

  • frequência inicial da resistência, ou seja, quantidade de insetos resistentes ao gene Bt;
  • intensidade da seleção, que significa a proporção de indivíduos resistentes e não resistentes;
  • padrão de herança da resistência, entendendo os indícios de que o gene resistente será herdado.

No MRI, assim como no MIP, as áreas de plantação Bt e não-Bt devem receber o mesmo tipo de tratamento controle no que diz respeito ao controle de plantas daninhas e à adubação. Dessa forma, os ciclos não ficam dessincronizados e mantêm maiores chances de acasalamento entre os insetos de ambas as culturas.

O manejo feito de forma inadequada pode trazer perda de eficácia da tecnologia. É comum, porém, que os produtores queiram aumentar a aplicação de inseticidas no campo sem que haja identificação da necessidade. Essa prática é recomendada apenas se houver perda de controle sobre o ataque de pragas, a fim de não elevar custos e não provocar maiores impactos ambientais.


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Manejo incorreto compromete a eficácia do refúgio


É importante lembrar que, como dito anteriormente, as sementes Bt não controlam pragas como percevejos, vaquinhas, mosca-branca e ácaros. Por isso é tão importante gerenciar o MIP e o MRI juntamente com o refúgio.

Monitorar as pragas com a frequência certa e adotar as recomendações de refúgio agrícola ajuda o agricultor a reduzir o custo com inseticidas, consequentemente, aumentando a rentabilidade.

 

Culturas Bt

A bactéria Bacillus thuringiensis é um microrganismo encontrado no solo e que produz proteínas inseticidas. Essas proteínas são  tóxicas para alguns insetos – das ordens Lepidoptera (borboletas e mariposas), Diptera (moscas e mosquitos), Coleoptera (besouros) e Hymenoptera (vespas, abelhas e formigas) – mas não têm qualquer efeito sobre outros organismos, inclusive nos seres humanos.

Nas culturas BT, um gene específico dessa bactéria é introduzido no genoma da planta (soja, milho, algodão e cana-de-açúcar), auxiliando no combate às pragas e, consequentemente, aumentando a produtividade da lavoura. Os insetos, ao ingerir a planta Bt, ativam a proteína, ligando-a a um receptor específico nas células de seus intestinos. Isso ocasiona a morte dos animais.

No Brasil, a implementação dessa tecnologia só foi possível devido à aprovação da Lei de Biossegurança, em 2005, que regulamentou todos os aspectos da produção de organismos geneticamente modificados no país. A partir de então, as sementes Bt tiveram rápida adesão no país, beneficiando os agricultores.

Tal adesão, para a diretora-executiva do CIB, Adriana Brondani, é “reflexo da eficiência da tecnologia no controle de pragas”. Entretanto, a manutenção no desempenho esperado da lavoura está vinculada ao emprego das Boas Práticas Agronômicas. Adriana considera o refúgio agrícola a ferramenta mais eficaz para retardar o aparecimento de pragas.

Linha do tempo das culturas Bt no mundoA adoção da cultura Bt, contudo, exige uma atenção especial na hora do manejo. O refúgio agrícola deve ser feito para não eliminar todos os insetos do local. Isso mantém a eficiência da tecnologia, garantindo que o produtor possa contar com ela por muito tempo.

O produtor pode adotar os mesmos cuidados que tem normalmente com a lavoura, mas é preciso ter cuidado na utilização de inseticidas, que devem ser aplicados em quantidade mínima.

 

Pergunte ao Boas

Eu preciso adotar o refúgio?

Não há nenhuma lei que obrigue o produtor a adotar as áreas de refúgio. Entretanto, recomenda-se que todo o agricultor que adotar a tecnologia BT, cultivando transgênicos, adote o refúgio agrícola. Isso garante a eficácia do plantio, juntamente com o manejo correto de cada propriedade, conforme recomendado.

Quais os impactos negativos de não adotar áreas de refúgio?

Optar por não utilizar a prática do refúgio implica em um possível aumento da população de insetos resistentes e, por consequência, a perda de eficácia da cultura BT. Isso pode ocorrer após algumas gerações de indivíduos resistentes.

Além disso, não seguir a recomendação pode causar danos nas propriedades próximas que tenham adotado o refúgio.

Devo adotar práticas diferentes do refúgio dependendo da cultura que está sendo cultivada?

A prática do refúgio é aplicada basicamente da mesma maneira para todos os tipos de cultura, exceto algumas recomendações mais específicas. Isso depende da proteína inserida na semente, pois cada uma possui uma determinada atividade contra uma praga. O recomendado é que nas lavouras de soja e algodão seja utilizado 20% de plantação não BT, enquanto no milho recomenda-se a adoção de 10% de cultura convencional.

Somente seguir essa proporção não garante a eficácia da tecnologia. É preciso também seguir, as demais recomendações apresentadas neste artigo. Dessa forma, o produtor assegura que o refúgio esteja funcionando corretamente conforme o esperado. A adoção apenas das outras técnicas também não é o ideal. O recomendado é seguir as técnicas de maneira simultânea, aplicando-as conforme sua plantação.

A região em que está situado o meu plantio influencia no refúgio?

As recomendações feitas levam em consideração a porcentagem mínima de área necessária para a adoção do refúgio. Algumas regiões específicas no país podem ter situações particulares, e, consequentemente, adotar estratégias diferentes.

Adotar o refúgio agrícola impacta na minha produção e no meu lucro?

O produtor que seguir as recomendações, adotando juntamente com a área de refúgio o MIP, o MRI e o uso de defensivos agrícolas quando necessário, tende a ter um maior nível de produtividade. Deve-se ressaltar a importância do monitoramento de pragas na propriedade e a adoção das demais ferramentas apresentadas aqui.

A implantação de áreas de refúgio é a principal técnica para retardar e evitar a evolução de insetos-praga. 

Boas Práticas Agronômicas

As Boas Práticas Agronômicas são um conjunto de técnicas de manejo que ajudam o agricultor a ter mais eficiência e a fazer o uso sustentável da biotecnologia no campo.

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