Não é possível falar de agricultura brasileira sem mencionar números grandiosos. Em nosso território, com práticas sustentáveis, emprego de tecnologia e agricultores comprometidos, produzimos a maior parte dos alimentos, fibras e energias renováveis consumidas em todo o mundo. Na safra 2016/2017, só em grãos, o País deverá colher 215,3 milhões de toneladas, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Por falar em grãos, soja e milho permanecem como principais culturas produzidas no País. Os dois produtos correspondem a quase 90% do que é produzido. A soja deve alcançar uma produção acima de 100 milhões de toneladas (t) e o milho quase 85 milhões, distribuídas entre primeira e segunda safra. Não por acaso, estão disponíveis para essas culturas, além do algodão, a inovação das sementes geneticamente modificadas (GM).
Há outros números que impressionam. De acordo com o último levantamento do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações Agrobiotecnologia (ISAAA), a área plantada com culturas transgênicas no Brasil foi 44,2 milhões de hectares, a segunda maior do mundo. Nessa área, aproximadamente 39% foi cultivada com plantas resistentes a insetos (plantas Bt). O cultivo da tecnologia Bt em grandes áreas pode resultar na seleção de pragas-alvo resistentes às toxinas Bt. Diante disso, a implementação de um programa de Manejo da Resistência de Insetos (MRI) é indispensável e o refúgio é a principal estratégia desses programas.
O refúgio é uma área cultivada com plantas não Bt em lavouras de soja, milho ou algodão Bt cujo objetivo é produzir insetos suscetíveis às proteínas inseticidas que irão se acasalar com os insetos resistentes provenientes das áreas Bt, gerando novos indivíduos suscetíveis à tecnologia. O objetivo é manter uma população de pragas vulneráveis ao efeito inseticida da variedade transgênica e preservar os benefícios da tecnologia.
O percentual da área que deve ser usada como refúgio varia de acordo com a cultura transgênica utilizada. As áreas de refúgio devem estar localizadas a uma distância máxima de 800 metros da lavoura com tecnologia Bt e a planta deve ser da mesma espécie, além de ter ciclo e porte igual ao da variedade Bt. A proporção é de 20% para a soja e o algodão e de 10% para o milho.
Elevar a taxa de adoção de refúgio é um desafio que pode ser superado. Para que um índice maior de agricultores proteja corretamente a sua lavoura por meio da adoção do refúgio e, consequentemente, tenham melhor qualidade de vida, empresas produtoras de sementes, cooperativas, associações e acadêmicos já estão engajados em programas de educação e de extensão rural. O Boas Práticas Agronômicas é uma dessas iniciativas que tem sido fundamentais para ajudar os agricultores a tomar as decisões mais adequadas aos seus sistemas de produção.
Também chamado de BOAS pelos produtores, o projeto que tem como objetivo estreitar vínculos com o homem do campo, estabelecendo-se como parceiro e fonte confiável de informações técnicas sobre a melhor forma de utilizar a biotecnologia agrícola e preservar a eficácia das sementes Bt. Desde julho de 2015, o programa já percorreu 31 cidades de 9 estados produtores, impactando 10 mil agricultores por meio de atividades interativas conduzidas por uma equipe multidisciplinar de profissionais em congressos do setor, feiras agrícolas e dias de campo.
Além dos números impressionantes que o Brasil já apresenta na adoção de tecnologias no campo, fundamentais para enfrentar os desafios da agricultura tropical, é necessário também que todo o setor apoie os programas de educação e de extensão rural, essenciais para a manutenção da eficiência, durabilidade da tecnologia e diminuição de insetos resistentes ao Bt. Informações técnicas e esclarecimento de dúvidas podem ser encontrados neste site.
Por Adriana Brondani
Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB)