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Defensivos agrícolas: fundamentais para agricultura sustentável

by Gustavo Magalhães

Defensivos agrícolas são produtos químicos, físicos ou biológicos usados na agricultura para o controle de seres vivos considerados prejudiciais à lavoura. Eles têm a função de defender as lavouras do ataque de insetos, plantas daninhas e doenças que atingem o ciclo de uma cultura.

São também conhecidos por agrotóxicos, pesticidas, praguicidas ou produtos fitossanitários. Dentre esses, agrotóxico é o termo utilizado pela legislação brasileira.

Aplicação de defensivos agrícolas

Os defensivos agrícolas fazem o controle das pragas que prejudicam a lavoura, garantindo a saúde das plantas. O seu uso permite a sustentabilidade da produção agrícola, que mantém o Brasil como um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo.

Pragas são organismos vivos, como insetos, ácaros, fungos ou plantas daninhas, que causam prejuízos às plantas cultivadas, produtos armazenados ou aos animais.

 

Por que os defensivos agrícolas são necessários?

A agricultura tem o desafio de produzir cada vez mais sem aumentar áreas plantadas. O objetivo é alimentar a população crescente de forma sustentável. No entanto, em condições climáticas favoráveis, as pragas podem causar diferentes níveis de danos, desde leve redução na lucratividade até perda total da lavoura. Em muitos casos, podem causar sérios prejuízos que afetam tanto o produtor como o consumidor final.


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Para resolver esse problema, existem várias técnicas de proteção contra pragas que são utilizadas pelos produtores rurais. Os defensivos agrícolas compõem uma dessas estratégias.

“Utilizados da forma correta, eles protegem a lavoura, evitando perdas no campo e escassez de alimentos.”

Juliana Ramiro, engenheira agrônoma e doutora em fitopatologia.

Os defensivos agrícolas podem ser utilizados como única forma de controle?

Assim como qualquer outra técnica da agricultura, os defensivos agrícolas não devem ser utilizados isoladamente, mas sim associados a um contexto conhecido como MIP – Manejo Integrado de Pragas.

O MIP é composto por um conjunto de ferramentas que visa o melhor manejo de uma determinada praga. Essa integração se inicia a partir de um planejamento agrícola, no qual serão determinadas quais serão as técnicas a serem utilizadas naquela safra.

Os defensivos agrícolas podem estar associados a diferentes técnicas do MIP. Também podem ser utilizados em diversos momentos, desde o tratamento de sementes até a prevenção ou controle de pragas durante o desenvolvimento da cultura.

Durante o ciclo de uma cultura se faz um monitoramento para verificar a presença de pragas que possam potencialmente causar prejuízos à lavoura. A partir daí, determina-se a utilização ou não de um defensivo agrícola, seja ele químico, físico ou biológico.

 

Manejo integrado de pragas

Uma das primeiras técnicas de manejo a serem adotadas no MIP é o uso de variedades resistentes, obtidas por meio do melhoramento genético de plantas.

Nos últimos anos, com a chegada da biotecnologia, o melhoramento genético de plantas avançou muito. Por meio de técnicas de biotecnologia, foram desenvolvidas variedades de plantas resistentes a insetos, as chamadas culturas Bt. O uso de variedades que contêm esse tipo de tecnologia reduziu a necessidade de utilização de defensivos químicos no controle de pragas.

 


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Além das variedades resistentes e dos defensivos, o MIP abrange diferentes formas de manejo de pragas. A escolha das melhores técnicas de manejo depende dos seguintes fatores:

  • planejamento
  • área plantada
  • informação obtida com o monitoramento
  • avaliação técnica prévia à tomada de decisão.

“A recomendação é sempre a utilização do Manejo Integrado de Pragas, onde os produtos fitossanitários, químicos ou biológicos, devem ser empregados apenas quando necessários.”

José Otávio Menten, engenheiro agrônomo doutor em fitopatologia.
Fazer o uso correto dessas ferramentas no controle de pragas permite aumentar a produtividade e obter maior rentabilidade.

 

Pragas que ameaçam as lavouras em todo o mundo

São inúmeras espécies de pragas que ameaçam as culturas agrícolas, causando perda de produtividade e reduzindo a produção de alimentos.

Danos causados por pragas

BOGIANI, Julio, Embrapa Algodão
ARAUJO, Clenio, Embrapa Milho e Sorgo
BASTOS, Fabiano Marques Dourado, Embrapa Cerrados
DAFF Archive, Bugwood.org

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), até 40% da produção agrícola é perdida no mundo devido ao ataque de pragas.

E as ameaças não param quando as culturas deixam os campos. Insetos, mofo e roedores podem causar danos no armazenamento. Os defensivos podem prolongar a vida das culturas e evitar perdas pós-colheita.

Uma relação das pragas com maior potencial para gerar prejuízos nas lavouras brasileiras foi definida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O objetivo dessa divulgação é sustentar a necessidade de controle e disponibilizar produtos mais adequados às necessidades do agricultor.

O agricultor pode aplicar os defensivos livremente em sua lavoura?

A resposta é não. Assim como os medicamentos, os defensivos agrícolas também exigem uma receita a ser prescrita: o receituário agronômico, feito por um engenheiro agrônomo.

Para sua correta aplicação deve-se saber:

  1. O tipo de praga que está causando problema na lavoura
  2. A dosagem necessária para o controle
  3. As condições da área com problema

É assim que esses produtos ajudam a manter rentabilidade e a alta produtividade da lavoura.

Recomendação do uso de defensivos

Consultando o Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários no site do MAPA, o Agrofit, é possível ver os defensivos químicos e biológicos registrados para determinada lavoura, a praga que o produto controla e a dose que deve ser utilizada do produto.

A busca pode ser feita por meio da denominação das pragas (insetos, doenças e plantas daninhas), ingrediente ativo e produtos formulados. É também necessário consultar um engenheiro agrônomo para a prescrição de algum produto antes de adquiri-lo.

Classificação dos defensivos agrícolas

Existem várias formas de classificar os defensivos. Pode ser de acordo com o tipo de praga que controlam, grupos de mecanismo de ação, toxicologia animal e periculosidade ambiental.

De acordo com a praga alvo que controlam

Pragas-alvo e defensivos agrícolas

  • Inseticidas: são produtos à base de substâncias químicas ou agentes biológicos que controlam insetos (lagartas, percevejos, pulgões etc).
  • Acaricidas: defensivos que controlam ácaros.
  • Fungicidas: agentes físicos, químicos ou biológicos que combatem fungos causadores de doenças nas plantas.
  • Nematicidas: defensivos utilizados para controlar nematoides (vermes) parasitas de plantas.
  • Herbicidas: são produtos que servem para eliminar ou impedir o crescimento de plantas daninhas.

De acordo com o mecanismo de ação na praga alvo

Cada ingrediente ativo (químico ou biológico) de defensivo obtido é classificado de acordo com o local e modo de ação em uma praga alvo. Ela pode ser um inseto, ácaro, nematoide, fungo ou planta daninha. Uma molécula de inseticida do grupo químico dos organosfosforados, por exemplo, age sobre o sistema nervoso e muscular do inseto, eliminando-o ou inibindo seu crescimento.

Já um agente inseticida biológico, como Bacillus thuringiensis, por exemplo, age sobre o intestino dos insetos. A classificação de acordo com o mecanismo de ação funciona da mesma forma para os demais defensivos como fungicidas, herbicidas, nematicidas e acaricidas.

Os mecanismos de ação dos fungicidas podem ser encontrados no FRAC (Comitê de Ação de Resistência à Fungicidas) e dos inseticidas e herbicidas no IRAC (Comitê de Ação de Resistência à Inseticidas) e no HRAC (Comitê de Ação de Resistência à Herbicidas), respectivamente.

De acordo com a toxicologia em animais

A legislação brasileira utiliza o termo agrotóxico para descrever os defensivos agrícolas porque eles também podem ser classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por níveis de toxicidade. Existem quatro classes toxicológicas:

Classificação toxicológica dos defensivos agrícolas

No rótulo do produto comercial (ingrediente ativo + aditivos) deve constar uma faixa com a cor da respectiva classe toxicológica determinada em testes prévios. Também devem constar os dizeres relativos à saúde, que devem ser lidos de forma criteriosa antes do manuseio do produto.

Para essa avaliação toxicológica são realizados estudos agudos relacionados aos riscos de irritações de pele, dos olhos e inalação devido à exposição aos produtos. Também são realizados estudos crônicos relacionados aos riscos de causar câncer, mutações ou problemas reprodutivos. Se o produto apresentar alguns desses riscos relacionados aos estudos crônicos, ele não pode sequer ser registrado e comercializado.

De acordo com a periculosidade ambiental

Cabe ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) realizar a avaliação ambiental dos agrotóxicos, estabelecendo suas classificações quanto ao potencial de periculosidade ambiental. Para essa avaliação são realizados diversos estudos sobre efeitos dos agrotóxicos em aves, peixes, mamíferos, abelhas, entre outros organismos e microrganismos não alvo.

Além disso, realizam-se estudos de solubilidade em água, biodegradação em solos, volatilidade etc para obter a classificação de potencial de perigo ambiental:

Classificação ambiental dos defensivos agrícolas

Fonte: IBAMA

Formulação de defensivos agrícolas

Os produtos formulados (ou produtos comerciais) são obtidos a partir de ingredientes ativos (incluindo suas impurezas) e aditivos. Esses aditivos são substâncias ou produtos adicionados aos agrotóxicos para melhorar sua ação, função, durabilidade, estabilidade ou detecção. Funcionam também para facilitar o processo de produção.

As formulações mais comuns de agrotóxicos devem ser diluídas em água. Algumas delas: concentrado emulsionável, pó solúvel, pó molhável, granulado dispersível etc. Além dessas, existem as formulações:

  • para diluição em solventes orgânicos
  • para aplicação direta
  • para tratamento de sementes
  • especiais como iscas, pastas, fumigantes etc.

Uso correto de defensivos agrícolas: como evitar danos à saúde e ao meio ambiente

O uso correto dos defensivos inclui cuidados com o aplicador e com a comunidade agrícola presente. Além disso, conta com a prevenção de excesso de resíduos nos alimentos e cuidados com o meio ambiente.

Recomendações para uso de defensivos agrícolas

Para tomarmos esses cuidados, devemos ficar atentos às seguintes recomendações antes, durante a após o manuseio e utilização desses produtos:

  • A aquisição de um produto deve ser feita via obtenção de um receituário agronômico, prescrito por um profissional habilitado (engenheiro agrônomo);
  • Seguir todas as recomendações sobre transporte e armazenamento dos produtos, em conformidade com a legislação e com as recomendações do fabricante/distribuidor;
  • Não colocar os produtos químicos junto a sacos de alimentos ou adubos;
  • Impedir o acesso de pessoas não autorizadas, crianças e animais ao depósito são medidas para evitar problemas antes mesmo da aplicação;
  • Realizar a leitura do rótulo e da bula antes da utilização do produto;
  • Utilizar Equipamento de Proteção Individual (EPI) durante todo o processo de manuseio, incluindo preparo da calda e aplicação;

Equipamento de Proteção Individual (EPI)

  • O preparo da calda é considerado a atividade de maior risco, pois o manipulador vai ter contato com o produto puro, altamente concentrado.

Recomendações para o preparo da calda

✓ Seguir corretamente as instruções do rótulo;
✓ Escolher um local ventilado, longe de casas, crianças e animais;
✓ Utilizar um copo medidor para a dose correta para fórmulas líquidas. Para fórmulas em pó molhável/solúvel, fazer uma mistura prévia no balde com água e, em seguida, despejar no pulverizador;
✓ Ao esvaziar embalagens plásticas, metálicas e de vidro de produtos que são diluídos em água, fazer a tríplice lavagem (lavar três vezes);
✓ Lavar os utensílios utilizados, pelo menos três vezes, colocando a calda dentro do pulverizador;
✓ Fechar bem a tampa do pulverizador para evitar vazamentos;
✓ Se ocorrer alguma contaminação, lavar imediatamente com água e sabão;
✓ Nunca utilizar o material de preparo da calda em outras atividades;
✓ Seguir rigorosamente as dosagens recomendadas pelo técnico responsável.

  • A quantidade de produto aplicada e o intervalo entre as aplicações também devem ser respeitados para que o defensivo faça o efeito desejado sem causar prejuízos;
  • Realizar regulagem do equipamento de aplicação;
  • Higienizar os EPI depois de cada aplicação é fundamental para a garantia do uso seguro e responsável;
  • As embalagens vazias devem ser guardadas no depósito até serem destinadas corretamente, seguindo as recomendações do canal distribuidor;
  • Cumprir o período de carência é essencial para evitar resíduo do agrotóxico no alimento em níveis acima do limite máximo permitido pelo Ministério da Saúde.

Aplicação de defensivo/Uso de EPI

É preciso fazer uso correto para evitar intoxicações que podem levar à morte.

 Intoxicações por defensivos agrícolas

As intoxicações por defensivos agrícolas podem acontecer de três formas:

✓ Contato com a pele (via dérmica): pode causar irritação, inchaço, ardência ou brotoejas. A pele fica seca, às vezes, infeccionada, com pus, e evoluindo para cicatrizes;
✓ Por meio da inalação (via respiratória): ardência do nariz e da boca, tosse, corrimento de nariz, dor no peito e dificuldade de respirar;
✓ Pela boca (via oral): os sintomas são irritação da boca e garganta, dor de estômago, náuseas, vômitos e diarreia.

Importante: na ocorrência de intoxicação, disque 0800-722-6001 (ANVISA)

Como funciona o processo de regulamentação dos defensivos agrícolas

Para obter o registro, o defensivo agrícola deve passar pela avaliação de três órgãos: MAPA, IBAMA e ANVISA.

São necessários aproximadamente 10 anos para a obtenção de uma molécula de um defensivo agrícola. O período envolve desde sua descoberta até a aprovação para comercialização.

Processo de registro de defensivos agrícolas

Cada um desses órgãos realiza um determinado tipo de avaliação do produto, de modo independente do outro. Cabe ao MAPA avaliar a eficiência e o potencial de uso na agricultura. Ao IBAMA é atribuída a avaliação ambiental, no qual é avaliado o potencial poluidor do produto. Já a ANVISA realiza a avaliação toxicológica do defensivo, determinando em quais condições o seu uso é seguro.

Os defensivos agrícolas têm um dos processos de regulamentação e aprovação mais rígidos do mundo.

Os setores reguladores são compostos por MAPA, ANVISA e IBAMA. Já os setores regulados são as indústrias/empresas fabricantes, canais de distribuição (revendas, cooperativas), empresas registrantes, consultorias, prestadores de serviços e usuários (produtores).

Lei nº 7802 de 11 de julho de 1989

A Lei nº 7802 de 11 de julho de 1989, consolida as questões ligadas aos defensivos agrícolas e é regulamentada por meio do Decreto nº 4074 de 4 de janeiro de 2002. Essa legislação dispõe sobre:

  • pesquisa
  • experimentação
  • produção
  • embalagem e rotulagem
  • transporte
  • o armazenamento
  • comercialização
  • propaganda comercial
  • utilização
  • importação e exportação
  • destino final dos resíduos e embalagens
  • registro
  • classificação
  • controle, inspeção e fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins.

Os defensivos biológicos têm registro diferenciado com base em normativas específicas e podem ser classificados em três categorias: agentes microbiológicos de controle (Instrução Normativa nº 3, de 10 de março de 2006), agentes biológicos de controle (Instrução Normativa Conjunta nº 2, de 23 de janeiro de 2006) e semioquímicos (Instrução Normativa Conjunta nº 1, de 23 de janeiro de 2006).

Para o produto biológico que não se enquadra em uma dessas categorias, são exigidos todos os requisitos e estudos constantes na legislação que regula o registro de agrotóxicos em geral.

Fonte: ANVISA, FAO, MAPA, IBAMA, ANDEF, FRAC, IRAC, HRAC, Lei nº 7802 de 11 de julho de 1989, Decreto nº 4074 de 4 de janeiro de 2002.
Redação BOAS, janeiro de 2019.

Boas Práticas Agronômicas

As Boas Práticas Agronômicas são um conjunto de técnicas de manejo que ajudam o agricultor a ter mais eficiência e a fazer o uso sustentável da biotecnologia no campo.

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