Representantes da cultura do algodão na Bahia estão se mobilizando para evitar o avanço dos insetos sobre as lavouras na região. O Programa Fitossanitário local informa os agricultores locais sobre a importância da adoção das áreas de refúgio, mas profissionais que estão no dia a dia do campo identificam problemas de manejo que podem comprometer a eficiência da tecnologia Bt.
O doutor em Entomologia e professor da Esalq/USP, Celso Omoto, explica que há adoção efetiva de refúgio no campo, mas ainda não está claro para o produtor que essa área deve ser manejada de uma forma diferente daquela onde estão plantadas as sementes resistentes a insetos. “Além das recomendações em relação ao tamanho da área de refúgio (10% para o milho e 20% para soja e algodão), é muito importante limitar o número de pulverizações de inseticidas”, alerta o pesquisador.
Omoto esteve nesta sexta-feira (16/09) em evento da Fundação Bahia em parceria com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). Na ocasião, palestrou sobre a importância da resiliência na agricultura. O pesquisador traçou um paralelo entre a produção de algodão no Brasil e na Austrália no que se refere ao manejo de lagartas do gênero Helicoverpa, praga que quase dizimou a produção de algodão no país, provocando sérios prejuízos financeiros, ambientais e sociais. Atualmente, com o advento da biotecnologia, o manejo de pragas no algodão na Austrália é realizado exclusivamente por meio do uso de variedades Bt, sendo raro o uso de inseticidas para que elas sejam controladas. “Resiliência é que quando a gente enfrenta um problema, aprende com isso, e dá a volta por cima. Os produtores australianos não eram bem vistos pela sociedade e por meio da tecnologia conseguiram reverter esse quadro. O Brasil perdeu uma grande chance de ser o número um no agronegócio com o milho Bt porque empresas e produtores tiveram visão de curto prazo. Com a soja e o algodão ainda temos chance”, defende. A falta de implementação de áreas de refúgio e um manejo incorreto pode resultar em redução significativa da eficácia da tecnologia Bt.
Para garantir a sustentabilidade da tecnologia Bt no campo o professor da Esalq reforça a importância do engajamento de todos os elos da cadeia, desde as empresas fabricantes de sementes até os produtores, passando pelos pesquisadores e a revenda. “Temos que preservar essa tecnologia no Brasil porque, quando bem utilizada, ela é fantástica”, afirma Omoto. Ele lembra ainda que, no curto prazo, não serão lançadas tecnologias que substituam as que estão atualmente disponíveis.