O refúgio agrícola é uma área adjacente à lavoura Bt de plantas da mesma espécie, que não possui a tecnologia Bt. Essa área tem como função a multiplicação de insetos suscetíveis à ação de proteínas inseticidas expressas nas plantas Bt.
O refúgio possibilita o acasalamento entre potenciais insetos resistentes, provenientes das lavouras Bt, e suscetíveis das áreas de refúgio, gerando indivíduos suscetíveis às tecnologias Bt.
O objetivo de manter a população de pragas suscetíveis às variedades transgênicas é preservar os benefícios das tecnologias Bt.
Todos os agricultores que utilizam tecnologias Bt precisam adotar o refúgio, pois as pragas-alvo possuem alta mobilidade. Portanto, um plano eficiente de MRI deve ser implementado em âmbito regional. A sustentabilidade da tecnologia depende do manejo adequado de cada propriedade, de forma coletiva.
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Para elucidar melhor sobre a importância do refúgio agrícola e como ele vem sendo adotado pelos agricultores, conversamos com o Dr. Oderlei Bernardi, Doutor em Entomologia e Professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no Departamento de Defesa Fitossanitária. Confira a seguir.
O Brasil tem uma grande adoção de plantas Bt? Quais os principais cuidados no manejo de resistência a insetos?
Desde a introdução das plantas Bt no Brasil o cultivo tem aumentado gradativamente, motivado pelos benefícios no controle de pragas e aumentos de produtividade. Mais de 40 milhões de hectares/ano são cultivados com plantas Bt no Brasil. Portanto, em nosso País se cultiva uma das maiores áreas com plantas Bt do mundo.
É indiscutível a grande capacidade dos insetos de se adaptarem a diferentes agentes de controle, dentre os quais as plantas Bt. Sendo assim, é importante definir como uma determinada tecnologia Bt será utilizada para que não ocorra seleção de indivíduos resistentes.
Nesse sentido, um dos principais cuidados deve ser o manejo da resistência de insetos mediante o cultivo das áreas de refúgio.
É fundamental que os usuários das tecnologias Bt adotem o refúgio e outras táticas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para reduzir a probabilidade de seleção de insetos resistentes.
Qual a importância de um refúgio estruturado na lavoura? Quais são as recomendações?
As áreas de refúgio estruturado servem como um “reservatório” de insetos suscetíveis. Portanto, os insetos da área de refúgio (área não-Bt) devem se dispersar para qualquer parte da área cultivada com plantas Bt.
Logo, espera-se que os insetos resistentes da área Bt acasalem com os insetos suscetíveis oriundos das áreas de refúgio. Assim, a geração seguinte será composta, em sua maioria, por insetos que serão suscetíveis às plantas Bt.
Contudo, para que haja o acasalamento entre resistentes e suscetíveis, as áreas de refúgio devem ser implementadas e tamanho e local adequado e manejadas conforme recomendações técnicas:
- É recomendada a adoção de 20% de área de refúgio para a cultura do algodão e soja e 10% para a cultura do milho.
- É recomendável que o refúgio seja plantado com um híbrido ou variedade de ciclo vegetativo similar, o mais próximo possível e a o mesmo tempo que a tecnologia Bt.
- O refúgio deve ser formado por um bloco de plantas não-Bt que se encontre a menos de 800 metros da área com o cultivo Bt, portanto, a distância máxima entre qualquer planta Bt e uma planta da área de refúgio não deve ser superior a 800 metros.
- O cultivo de faixas de refúgio dentro do campo com cultivo Bt é recomendável para aumentar a eficácia do refúgio em retardar a evolução da resistência.
- O refúgio deve ser plantado na mesma propriedade do cultivo da cultura Bt, de modo a garantir a produção de indivíduos suscetíveis.
- Não deve ser realizada a mistura de sementes Bt e não-Bt.
Na sua opinião, o que poderia ser feito para aumentar a adoção de refúgio no campo?
O grande desafio da agricultura brasileira é conciliar um sistema intensivo de produção de cultivos com o uso de práticas agrícolas sustentáveis, dentre as quais as estratégias de manejo da resistência. Portanto, na minha opinião, para aumentar a adoção de áreas de refúgio pode-se:
- Bonificar ou beneficiar os agricultores que adotem áreas de refúgio em suas propriedades mediante descontos na aquisição de sementes e/ou cultivares nas safras subsequentes.
- Disponibilizar aos agricultores, em volume e qualidade, sementes ou cultivares não-Bt com potencial produtivo similar daquele das variedades ou cultivares Bt.
- Incentivar a cooperação entre agricultores, consultores, empresas, universidades, extensionistas, institutos de pesquisa e órgãos de regulamentação para a implementação uso das áreas de refúgio.
- Por fim, educação e campanhas de divulgação para o uso dos princípios básicos de Manejo Integrado de Pragas e Manejo da Resistência de Insetos.