Nematoides são vermes de tamanhos bastante variáveis e geralmente abundantes no solo e na água. Muitas vezes são parasitas de animais, insetos e também de plantas.
Os parasitas de animais chegam a atingir vários centímetros de comprimento, enquanto os de plantas medem de 0,3 a três milímetros. Possuem o corpo em formato cilíndrico, geralmente alongado e com as extremidades afiladas.
Nos solos agrícolas geralmente existem diferentes espécies de nematoides, sendo que uma parcela substancial dessa comunidade se alimenta diretamente das raízes de plantas, às vezes causando doenças.
Os nematoides que atacam as plantas são chamados de fitonematoides. Em geral são classificados como endoparasitas, ou seja, ficam grande parte do seu ciclo de vida dentro das raízes das plantas.
Há também os ectoparasitas que geralmente ficam na parte externa da raiz. Os nematoides utilizam um estilete para se alimentar das raízes. Eles inserem esse estilete nas células para remover o conteúdo celular, impedindo a absorção de água e nutrientes pelas plantas.
SAIBA MAIS
Conheça as principais doenças que atingem lavouras de soja, milho e algodão no Brasil
Controle de pragas da cana-de-açúcar
Culturas hospedeiras de nematoides
Os fitonematoides estão amplamente distribuídos pelas espécies de plantas cultivadas existentes na terra. Soja, algodão, cana-de-açúcar, café, citros e tomate são exemplos de culturas de importância econômica bastante afetadas por nematoides. No entanto, várias outras culturas são atacadas por essas pragas, incluindo leguminosas, hortaliças e frutíferas.
Os fitonematóides mais importantes são os dos gêneros:
- Meloidogyne
- Heterodera
- Globodera
- Pratylenchus
- Rodopholus
- Rotylenchulus
- Nacobbus
- Tylenchulus
Além de causarem danos diversos às plantas parasitadas, esses organismos criam portas de entrada para fungos e bactérias ou atuam como vetores de viroses. Também alteram a suscetibilidade da planta hospedeira a outras doenças por meio da indução de alterações fisiológicas na planta.
Sintomas causados pelos principais nematoides
Meloidogyne spp.
Um dos principais sintomas causados por nematoides do gênero Meloidogyne é a galha.
Galhas são alterações celulares no interior dos tecidos das plantas decorrentes do processo de alimentação dessas pragas. São estruturas observadas nas raízes das plantas, às vezes, comparadas a tumores, e apresentam tamanhos e números variados.
No interior das galhas estão localizadas as fêmeas do nematoide, que depositam seus ovos na raiz. Após a eclosão, essas formas jovens e móveis, passam a migrar no solo à procura de raízes de uma planta hospedeira favorável.
Heterodera glycines
O Heterodera glycines, também conhecido como Nematoide do Cisto da Soja, tem essa cultura como principal hospedeira de importância econômica. Essa espécie penetra nas raízes da planta de soja e dificulta a absorção de água e nutrientes, resultando em porte reduzido das plantas e manchas amarelas na parte aérea. Por isso a doença é conhecida como nanismo amarelo da soja.
Rotylenchulus reniformis
Já os sintomas causados pela espécie Rotylenchulus reniformis diferem um pouco daqueles causados por outros nematoides. Ele pode ocasionar redução de radicelas (raízes menores que se ramificam das raízes principais ou laterais) em função do parasitismo. As principais culturas atacadas por esse nematoide são a soja e o algodão.
SAIBA MAIS
Genoma do nematoide do cisto da soja é desvendado e pode ajudar em seu controle
Detecção e amostragem de nematoides
Para saber qual a espécie de nematoide está causando doença na lavoura, é feita uma análise de amostras de solo e raízes em laboratório especializado. Essa análise pode ser feita na fase de pré-plantio e em fases posteriores de desenvolvimento da cultura.
Com isso, pode-se preventivamente reduzir os prejuízos bem como amenizar as perdas caso o nematoide já esteja instalado na lavoura.
A coleta de amostras para análise é feita em pequenas porções de solo (em torno de 200g), também chamadas de subamostras, que deverão ser compostas de algumas raízes.
- Recomenda-se coletar em torno de 15-20 subamostras por hectare em profundidade de 20-30 cm ao redor das plantas (deve-se caminhar em zig-zag pela área suspeita).
- Após a coleta, as subamostras devem ser homogeneizadas em sacos de polietileno formando amostras compostas de cerca de 400-500g de solo homogeneizado e 200-300 gramas de raízes coletadas aleatoriamente.
- A amostra composta deve ser identificada e enviada para um laboratório especializado.
Para áreas extensas e irregulares, é recomendável sua divisão em quadrantes e retirar uma amostra composta por quadrante. Caso não seja possível enviar as amostras no mesmo dia, estas devem ser armazenadas e mantidas em temperaturas entre 10°C e 15°C, ou deixadas à sombra para que não ocorra o ressecamento, que dificulta o correto diagnóstico em laboratório.
Controle de nematoides
O controle de nematoides é uma tarefa difícil. Geralmente o produtor precisa conviver com a praga, já que sua erradicação é praticamente impossível.
Dessa forma, os métodos usuais de controle têm como objetivo principal reduzir ou manter a população dos nematoides em níveis baixos para que não causem perdas econômicas. Dentre esses métodos, podemos considerar:
Controle preventivo
A prevenção é a melhor forma de controle de nematoides do solo. Para isso, o produtor deve:
- Utilizar mudas e sementes sadias
- Evitar o plantio em solos contaminados
- Manter o terreno limpo sem a presença de restos de culturas ou plantas daninhas
- Evitar o plantio em épocas favoráveis (temperaturas elevadas e chuvas)
O ideal é que o plantio ocorra em épocas secas e frias. A limpeza de ferramentas e maquinários agrícolas também são medidas preventivas de extrema importância para evitar a entrada de nematoides na lavoura.
Rotação de culturas
A rotação com culturas não hospedeiras é uma das práticas mais importantes na redução de nematoides em uma área. Culturas que não hospedam um determinado tipo de praga tem como finalidade eliminar total ou parcialmente estes organismos pela falta de alimento.
Assim, em áreas infestadas por M. incógnita, por exemplo, sugere-se a rotação com amendoim (Arachis sp.), braquiárias (Brachiaria spp.), crotalária (Crotalaria spectabilis) e mamona (Ricinus communis L.). Para o controle do nematoide do cisto da soja, deve-se utilizar culturas como arroz, algodão, sorgo, mamona, milho e girassol.
Plantas antagonistas
Plantas antagonistas são plantas capazes de impedir o desenvolvimento de algumas espécies de nematoides por meio de inibição, repelência ou liberação de substâncias tóxicas. Essas plantas têm mostrado resultados expressivos na redução de populações de nematoides em diferentes culturas.
Crotalárias (Crotalaria spectabilis, C. juncea L. e C. breviflora), cravo-de-defunto (Tagetes patula L., T. minuta L., T. erecta L.) e mucunas (Estizolobium spp.) são exemplos de plantas antagonistas que são utilizadas com sucesso no controle de nematoides.
Cultivares resistentes
A utilização de variedades resistentes, juntamente com outras práticas culturais, é de grande relevância para o controle dos nematoides. No entanto, quando plantadas continuamente deixam de ser efetivas após alguns anos, pois essas pragas apresentam grande variabilidade.
Para reduzir a pressão de seleção sobre a população de nematoide, as variedades resistentes devem ser utilizadas em programas de rotação de culturas que incluam uma variedade suscetível e também uma planta não hospedeira.
Uso de defensivos
Existem alguns defensivos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o manejo de fitonematoides. Muitos deles são utilizados no tratamento de sementes, sendo capazes de proteger a cultura logo no início do seu desenvolvimento, diminuindo perdas de produção.
No entanto, até o momento, não há evidências científicas de nematicidas com potencial de reduzir significativamente a população de nematoides na área a ponto de eliminar a rotação de culturas. A não utilização desta prática, ou utilização incorreta, pode inviabilizar o cultivo de determinadas culturas por alguns anos.
Remoção de restos culturais
A remoção das raízes infectadas após a colheita é prática que contribui para redução dos níveis populacionais antes do próximo plantio. Esses restos de raízes devem ser retirados da área, amontoados e secos para serem queimados.
A manutenção e incorporação de restos de raízes infectados por nematoides na área cultivada pode inviabilizar os métodos usuais de controle. Isso porque ficam alojados nesses tecidos, tornando-se protegidos da ação de nematicidas e outros agentes físicos e biológicos de controle.
Por Juliana Ramiro
Doutora em Fitopatologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e consultora do Programa Boas Práticas Agronômicas.