Os polinizadores são responsáveis pela transferência de grãos de pólen entre diferentes estruturas das flores, o que resulta na formação de frutos e sementes. Esse processo, conhecido como polinização, é muito importante para a reprodução das plantas, influenciando diretamente na produção agrícola.
Os polinizadores são indispensáveis na agricultura porque exercem papel central na produção de alimentos, na conservação da biodiversidade e contribuem para o PIB de países que são grandes produtores agrícolas.
De acordo com o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil,, estima-se que a contribuição dos polinizadores para a agricultura brasileira tenha sido de R$ 43 bilhões em 2018. Esse valor refere-se ao montante que os agricultores teriam de gastar caso não houvesse polinizadores.
O que é e como é feita a polinização
Polinização é o processo de transferência de células reprodutivas masculinas para o receptor feminino da flor. Essa transferência acontece por meio do pólen. Uma vez que o gameta masculino encontra o gameta feminino, ocorre a fecundação.
Da fecundação, acontece a produção de frutos e sementes. Por isso a polinização é vital para as plantas, pois garante a produtividade, perpetuação de espécies e frutos mais resistentes.
A polinização pode ser realizada tanto por animais como por vento ou água. A maioria das plantas, cultivadas ou nativas, é polinizada por animais e depende destes para sua reprodução.
Em países de clima tropical, 94% das plantas são polinizadas por animais. Entre as plantas cultivadas, as abelhas são o grupo de polinizadores mais importante, pois visitam mais de 90% dos 107 principais cultivos agrícolas do mundo.
SAIBA MAIS
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Existem dois tipos de polinização: a cruzada e autopolinização.
Polinização cruzada
Na polinização cruzada, o pólen é transferido de uma flor para outra da mesma espécie. O polinizador leva o pólen da flor de uma macieira, por exemplo, para a flor de outro pé de maçã. A partir daí, acontece a fecundação e a produção de frutos e sementes.
Autopolinização
Na autopolinização, por outro lado, o material reprodutivo é enviado do órgão masculino para o órgão feminino dentro da mesma flor. Nesse processo, a planta não depende de outra flor para fazer a reprodução. Algodão, fumo e ervilha são plantas que realizam a autopolinização.
Benefícios trazidos pelos polinizadores
A presença de polinizadores no ecossistema pode trazer vários benefícios, dentre eles:
- manutenção da população de plantas e da variabilidade genética entre elas, essenciais para a preservação da biodiversidade;
- a garantia do fornecimento confiável e diversificado de frutos, sementes e mel;
- ganho econômico pois, apenas no Brasil, calcula-se que a polinização relacionada à produção agrícola tenha um valor anual de US$ 12 bilhões.
De 191 plantas cultivadas ou silvestres utilizadas direta ou indiretamente na produção de alimentos em solo brasileiro, 144 (75%) são visitadas por polinizadores.
Principais polinizadores
Os animais polinizadores são, em sua maioria, insetos tais como abelhas, moscas, borboletas e etc. Mas também há polinizadores vertebrados, como aves, morcegos, mamíferos não voadores, lagartos e muitos outros.
Abelhas
As abelhas são os principais polinizadores da agricultura. O fato de visitarem mais de 90% dos 107 principais cultivos agrícolas do mundo quer dizer que polinizam 10% do PIB mundial, o que corresponde a 200 bilhões de dólares.
Isso ocorre porque as abelhas estão presentes em grande quantidade em muitos ambientes e têm características que facilitam o transporte de pólen entre as plantas. Essas características são:
- Alimentação: pólen e néctar das plantas são o principal alimento das abelhas em todas fases da vida, do nascimento à vida adulta. Portanto, elas sempre visitam as flores em busca de comida.
- Formação: o corpo das abelhas é revestido de pelos plumosos onde centenas de grãos de pólen se fixam. Esse pólen é distribuído nas flores durante o voo das abelhas.
Alguns cultivos economicamente importantes, como soja, café, maçã, cebola, erva-mate, melão, tomate e feijão, são polinizados por abelhas.
Os principais tipos de abelha predominantes na polinização de cultivos relacionados à produção de alimentos são:
Social Apis mellifera
As abelhas pertencentes a essa espécie são polinizadoras de 54 cultivos. São as mais utilizadas no mundo todo. Fazem coleta de pólen em grande variedade de flores. Cada ninho tem muitas operárias que se comunicam sobre as fontes de alimento disponíveis.
Abelhas jataí ou nativas sem ferrão
São polinizadoras de 52 cultivos; das 101 espécies existentes, 41 são polinizadores. Esse tipo de abelha está distribuído em regiões tropicais e subtropicais do mundo. Nas Américas tropicais e subtropicais são registradas cerca de quatrocentas espécies. No Brasil, essas abelhas são responsáveis por algo entre 40% a 90% da polinização.
Besouros
Os besouros fazem a polinização em diversos cultivos enquanto se reproduzem nas flores ou se alimentam de partes delas. Esses insetos polinizam 24 plantas cultivadas e são polinizadores exclusivos de 15 delas, muitas com grande apelo econômico – como é o caso do açaí e do babaçu.
As 23 espécies e 27 gêneros de besouros são considerados polinizadores de diversos cultivos no país, como abóbora, melancia, quiabo, buriti etc.
Moscas
As moscas polinizam sete plantas, entre cultivadas e silvestres. Sete espécies e seis gêneros de moscas são conhecidos por fazer a polinização dessas plantas no País.
Algumas dessas plantas são muito importantes para a economia, como é o caso do cacaueiro, que produz cacau, a matéria-prima do chocolate. O cacau (Theobroma cacao) é produzido, exclusivamente, pela polinização realizada por pequenas moscas pertencentes ao gênero Forcipomyia.
Outros frutos como manga, pera e pimentão também são provenientes de plantas polinizadas por moscas.
Vespas
As vespas fazem a polinização de cinco cultivos: a aroeira-vermelha, o juazeiro, a mangueira, a pereira e o umbuzeiro. No total, 11 espécies e oito gêneros de vespas são conhecidos como polinizadores. Dentre estas, estão as vespas-caboclas e outros marimbondos dos gêneros Protonectarina, Polybia e Brachygastra, como enxús e lechiguanas.
Borboletas e mariposas
As borboletas polinizam quatro plantas: laranjeira, mangabeira, pereira e abacaxizeiro-do-cerrado. São polinozadoras 14 espécies e 11 gêneros de borboletas. Já as mariposas auxiliam na polinização de quatro espécies de plantas: pequizeiro, piquiazeiro, jaracatiazeiro e mangabeira, sendo o principal polinizador deste último.
Aves e morcegos
Entre os animais vertebrados que fazem polinização vinculada à produção de alimentos destacam-se as aves e os morcegos. Aves como beija-flores, periquitos e maritacas polinizam três tipos de plantas cultivadas e silvetres: abacaxi-do-cerrado, bacurizeiro e maracujá-poranga.
Os beija-flores, que têm 13 espécies e oito gêneros são os polinizadores do abacaxi-do-cerrado e do maracujá-poranga. Estes cultivos têm como polinizadores o beija-flor-de-fronte-violeta, o beija-flor-dourado, o rabo-branco-de-bigodes e uma espécie do gênero Amazilia.
O bacurizeiro é polinizado por pássaros, periquitos e maritacas, sendo:
- cinco espécies de pássaros: pipira-vermelha, saí-de-perna-amarela, sanhaçus e xexéu;
- duas espécies de periquitos: periquito-de-asa-dourada e periquitão-maracanã;
- uma espécie de maritaca: marianinha-de-cabeça-amarela.
Os morcegos contribuem para a polinização de três espécies de plantas: pequizeiro, piquiazeiro e jatobá-do-cerrado, sendo os polinizadores exclusivos deste último. Esses cultivos são polinizados por cinco espécies de morcegos: Anoura geoffroyi, Carollia perspicillata, Glossophaga soricina, Phyllostomus discolor e Platyrrhinus lineatus.
Vento
Algumas plantas cultivadas e silvestres são polinizadas em parte ou integralmente pela ação do vento. Isso acontece nas palmeiras que produzem o babaçu, no coqueiro e na planta do buriti. Cultivos da família das gramíneas muito significativas para a economia, como arroz, aveia, cana-de-açúcar, cevada, milho e trigo são polinizados exclusivamente pelo vento.
Outras plantas importantes polinizadas pela ação do vento são a pimenta-do-reino, outras pimentas do gênero Piper e as araucárias, que produzem o pinhão.
Como atrair abelhas polinizadoras
Como já se sabe, as abelhas polinizadoras são responsáveis por grande parte das plantas cultivadas e silvestres. Sem abelhas não há polinização e sem polinização muitas plantas deixam de reproduzir, o que poderia tornar escassa a oferta de alimentos. Isso levaria a um aumento de preços ao consumidor final.
Algumas medidas podem fazer com que abelhas polinizadoras sejam atraídas para o campo, tais como:
- plantio direto: quando o solo não é revolvido, as abelhas que constroem ninhos no solo são beneficiadas;
- áreas de cultivo próximas à vegetação natural: nesse locais, as abelhas também encontram espaço adequado para construção de ninhos, o que aumenta a presença do inseto nas culturas;
- consórcio de culturas: plantar espécies diferentes próximas umas às outras aumenta as fontes de alimento, o que acaba atraindo mais abelhas;
- uso correto de defensivos agrícolas: produtos químicos são recomendados apenas quando necessários e devem estar no contexto do manejo integrado de pragas;
- irrigação adequada: a escolha de um sistema de irrigação que não atrapalhe as abelhas é o mais indicado, como a subirrigação. Ou fazer a irrigação em um horário em que as abelhas estejam menos presentes nas flores;
- troncos para ninhos: dispor de tronco de árvores mortas é uma boa alternativa para a as abelhas construírem seus ninhos.
É verdade que as abelhas correm risco de extinção?
Há alguns anos várias notícias, veiculadas principalmente na mídia européia e norteamericana, apontavam a chegada do “armagedom das abelhas”. Esses relatos diziam que esses insetos estavam sendo extintos e o uso de defensivos agrícolas era o principal culpado pela crise. Além disso, como esses polinizadores são vitais para a produção de alimentos, de acordo com os dados da mídia, estaríamos à beira da fome global.
Embora a hipótese da extinção das abelhas seja muito preocupante, novas pesquisas apontam que o uso de defensivos agrícolas pode não ter um papel tão determinante assim para esse fenômeno. Esses insetos, de fato, enfrentam alguns desafios de saúde, mas eles são resultado de uma variedade de fatores, a exemplo da perda de habitat por mudanças do uso da terra, de doenças, de parasitas e também do uso de defensivos.
Estudo publicado na Nature em 2015, por exemplo, aponta o crescimento de um inimigo desses insetos, o ácaro varroa (Varroa destructor), como um importante fator para a morte das abelhas. Esse ácaro infesta colônias de abelhas das espécies Apis cerana e Apis mellifera e dizima as colmeias.
Contudo, as abelhas não estão correndo risco de extinção. Embora as doenças, parasitas e outras ameaças sejam problemas reais para os apicultores, o número total de abelhas manejadas em todo o mundo aumentou mais de 80% entre 1961 e 2017.
O que se pode afirmar é que as populações de abelhas não estão declinando, muito menos a caminho da extinção.
Por Juliana Ramiro
Doutora em Fitopatologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e consultora do Programa Boas Práticas Agronômicas.