Por Luna D’Alama
A parceria entre a Embrapa Soja e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná (Emater-PR) começou nos anos 1970, mas, até a safra 2012/2013, as ações eram focadas em palestras e no acompanhamento de algumas áreas. Desde 2013/2014, porém, as duas entidades têm feito um trabalho intensivo de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e Manejo Integrado de Doenças (MID), com atividades organizadas e contínuas, treinamentos em boas práticas agronômicas e o envolvimento de produtores e técnicos agrícolas. O MIP é um conjunto de ferramentas baseado na amostragem de insetos-alvo e no monitoramento da lavoura para tomada de decisão quanto ao controle de pragas e à racionalização do uso de inseticidas, o que acaba reduzindo os custos de produção. Já o MID se concentra em doenças como a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi.
Desde 2013/2014, a Embrapa Soja e a Emater-PR também publicam anualmente um documento intitulado “Resultados do Manejo Integrado de Pragas da soja na safra [ano respectivo] no Paraná”. Esse material consolida o que foi verificado em todas as áreas monitoradas, chamadas de Unidades de Referência (UR), e é apresentado em eventos de capacitação. Na safra 2016/2017, o projeto acompanhou de perto 141 UR, sendo 55 talhões (39%) de soja Bt (resistente a insetos) e 86 (61%) de soja não Bt, em 75 municípios do Estado. Cada extensão em que o MIP ocorre tem cerca de 50 hectares, e são rastreados pelo menos dez pontos em áreas grandes, o que é considerado uma realidade bem representativa do Paraná.
Os agricultores assistidos pela parceria fizeram, em média, 2,1 aplicações de inseticidas ao longo do ciclo da soja na última safra, contra 3,7 realizadas em áreas comerciais que adotam a tecnologia Bt e 4,5 na média estadual – uma redução de até 53%. Além disso, a primeira pulverização nas UR foi feita, em média, mais de dois meses após a planta brotar, ao passo que nas áreas comercias do Paraná isso aconteceu um mês antes. “Esse tempo a mais antes da primeira aplicação permite uma maior colonização de inimigos naturais para controle biológico, que são benéficos e ajudam a deixar as pragas em equilíbrio e a não ter tantos surtos”, explica o pesquisador e líder da equipe de Entomologia da Embrapa Soja, Samuel Roggia.
Já a produtividade média de onde é feito o MIP foi de 64,5 sacas por hectare, contra 50 sacas/ha quatro anos atrás. Nos terrenos sem manejo integrado, a produtividade média foi de 64,2 sacas/ha em 2016/2017, mas, apesar do número equivalente, nesses locais os gastos com controle de pragas (aplicações de produtos, combustível, etc) representaram 4,1% de toda a receita bruta da produção, contra 2,3% nas áreas de MIP. “A dúvida do agricultor em adotar ou não o MIP está sempre na produtividade, mas ela se manteve. E o grande diferencial se dá nos custos de produção, é um grande incentivo, você usa menos produtos. Só há vantagens”, avalia Roggia.
Questionário paralelo
Paralelamente a esse trabalho, foi aplicado um questionário com 314 produtores que não participaram do programa de MIP e MID. As perguntas eram sobre que tipo de cultivares eram utilizadas, quantas aplicações foram feitas e contra quais pragas e doenças, os produtos escolhidos, a época de semeadura, etc. “É uma radiografia do manejo da lavoura como um todo. Estamos montando uma base de dados bem extensa e, a partir desse levantamento, vamos comparar os dados com os dos agricultores atendidos”, afirma.
O entomologista da Embrapa Soja lembra que 2013 foi o ano da infestação por Helicoverpa armigera, e a partir daí teve início um alinhamento maior e atualização quanto a esse novo cenário. “Estabelecemos um protocolo, com recomendações a ser seguidas. Começamos monitorando as regiões norte, oeste e alguns pontos do sul do Paraná. A cada ano, melhoramos nossa abrangência”, destaca o especialista. Segundo ele, hoje o Estado planta 50% de soja Bt, que está presente nas regiões sul, sudeste, centro-oeste e norte.
Roggia comenta que o método de amostragem de pragas utilizado nesse projeto de MIP é a “batida de pano”, e que os insetos-alvo mais desafiadores hoje no Paraná, com maior potencial de danos, são os percevejos, principalmente o percevejo-marrom (Euschistus heros). “Os insetos sugadores de um modo geral, como a mosca-branca e os psilídeos, têm sido um desafio para a agricultura”, aponta. Além disso, o entomologista diz que, para quem não conhece direito uma lagarta, elas podem parecer todas iguais à primeira vista, mas cada uma tem sua especificidade e um produto diferente capaz de combatê-la. Já a principal doença da soja no Estado é a ferrugem.
Giros técnicos e reunião anual
Desde 2015/2016, uma vez por safra, a parceria inclui “giros técnicos” – eventos regionais que reúnem três pesquisadores da Embrapa Soja e de cinco a dez técnicos locais da Emater-PR – para conversar com produtores e vizinhos que adotam ou não MIP e MID. Nesses dias de campo, realizados sempre entre setembro e novembro, os participantes assistem a palestras sobre manejo integrado, conservação do solo, fixação biológica de nitrogênio, tecnologia de aplicação e temas afins. “Às vezes, atendemos a demandas e dificuldades pontuais, tiramos dúvidas sobre normas e mercado, e aproveitamos esses momentos também para levar informações sobre as boas práticas agrícolas”, enfatiza Roggia.
De acordo com o entomologista, essa é uma forma de a Embrapa se manter em contato com o campo e de os agricultores, por sua vez, relacionarem-se com a pesquisa. “A partir de novembro deste ano, já devemos começar alguns giros em cidades como Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Pato Branco e Campo Mourão”, prevê o especialista. De acordo com ele, até os produtores que não adotam MIP já têm reduzido o número de aplicações de inseticidas em suas lavouras. “Aos poucos, eles estão se familiarizando com os termos e práticas, e executando alguns instrumentos de manejo integrado nas plantações”, diz.
Uma vez por ano, a Embrapa Soja e a Emater-PR se reúnem, ainda, para apresentar os dados da última safra e planejar a próxima, com algumas revisões. O encontro de 2017 foi promovido entre os dias 19 e 21 de setembro, no auditório da Embrapa Soja, em Londrina, com a presença de 160 pessoas. “Mostramos os resultados em relação a pragas, doenças e aplicações de inseticidas e fungicidas, reforçando a importância do MIP e do MID”, ressalta Roggia.
Ele espera que, para 2018, a área de MIP e MID e o número de locais monitorados aumentem. “Queremos impactar o sistema produtivo como um todo, evitando que as pragas se tornem resistentes e obtendo resultados também do ponto de vista de custos, de menos resíduos lançados ao meio ambiente e de menor exposição dos agricultores, familiares e animais aos defensivos químicos. Conhecer o problema a fundo possibilita uma melhor tomada de decisão”, conclui o entomologista da Embrapa Soja.