Por Luna D’Alama
Há três safras, a Fundação MT vem desenvolvendo um trabalho de boas práticas agronômicas e Manejo Integrado de Pragas (MIP) com produtores de milho, algodão e principalmente de soja no Estado. Em 2016/2017, duas fazendas – Guarita, em Rondonópolis, e Gravataí, em Itiquira – receberam monitoramento contínuo ao longo do ciclo, uma vez por semana ou a cada quatro dias durante o período reprodutivo da cultura. A equipe é composta por sete pessoas (entre engenheira agrônoma, técnico agrícola, assistentes de pesquisa e dois profissionais que ficam em laboratório), e a avaliação in loco é conduzida pela pesquisadora da área de entomologia da Fundação MT, Lucia Vivan.
Em cada uma das propriedades, verificam-se desde 2014/2015 questões como a dessecação do terreno, o tratamento de sementes, as infestações por lagartas ou percevejos, e as aplicações de inseticidas. Para isso, a entidade define, a cada safra, um talhão com cerca de 20 hectares e o divide ao meio. “Antes, avaliávamos 100 hectares, aí baixamos para 50 e agora estamos com 20, pois vimos que o tamanho não influencia no resultado, e também perdíamos muito tempo percorrendo toda essa área”, explica Lucia.
É feito, então, um desenho em ziguezague e são marcados até 20 pontos no GPS, para que seja verificado tudo dentro da extensão demarcada. “Em uma das metades, realizamos o monitoramento e recomendamos as aplicações ao produtor. Na outra, ele toma as decisões que cogitar mais adequadas. Avaliamos a área dele também, contamos a população de pragas, mas não interferimos no que será feito ali”, afirma a pesquisadora da Fundação MT. Por meio de parcerias com empresas, a entidade também indica, busca e entrega ao agricultor os melhores produtos para controle naquele momento.
Contra as pragas, a iniciativa utiliza armadilhas com feromônios para atrair mariposas e o método “pano de batida” para lagartas. Essa técnica inclui colocar um tecido entre as linhas de soja; as plantas, então, são chacoalhadas, os insetos caem e são contabilizados. “Determinamos o nível populacional que deve causar danos e, se chegar a esse estágio, entramos com o inseticida. Mas não esperamos ter 20 lagartas por metro linear; com 12, já fazemos a aplicação. E, como o monitoramento é semanal, podemos observar desde o início da infestação”, conta Lucia.
Esta é a terceira safra que a Fazenda Guarita, com 11 mil hectares, participa do projeto. Já a Gravataí, com 4.100 ha, começou em 2016/2017. “A segunda propriedade é sempre uma área diferente a cada ciclo, para vermos se o sistema de produção influencia na população de insetos”, aponta a pesquisadora. Antes de Gravataí, a Fundação MT acompanhava uma propriedade na Serra da Petrovina. E, em outubro, começará o trabalho destinado à safra 2017/2018, que vai até fevereiro ou março do próximo ano.
Economia de até R$ 70/ha
A especialista em entomologia revela que, desde 2014, houve uma redução no número total de aplicações de inseticidas. “Em alguns casos, fizemos apenas duas para lagartas, enquanto o produtor, em uma área próxima, efetuou cinco, sem necessidade”, compara. Ao somar os custos finais, a área controlada pela Fundação MT chegou a ter uma economia de até R$ 70 por hectare em relação ao talhão administrado pelo agricultor.
“A maioria dos produtores concorda que esse monitoramento é importante e que as aplicações muitas vezes são feitas sem necessidade ou tardiamente, mas colocam isso como um problema operacional, por falta de maquinário, por exemplo. Muitos dizem que são obrigados a isso porque não conseguem monitorar a propriedade inteira e usar os inseticidas no momento exato”, relata a pesquisadora. Os resultados obtidos são sempre compartilhados nos eventos e reuniões da Fundação MT, e a meta é que, com essa iniciativa, a utilização de inseticidas na lavoura ocorra de forma cada vez mais correta, efetiva e consciente.
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