A soja Bt foi desenvolvida por meio do melhoramento genético e técnicas da biotecnologia. Teve seu código genético modificado, recebendo genes da bactéria Bt (Bacillus thuringiensis) encontrada no solo. Essa bactéria produz proteínas tóxicas específicas para algumas pragas que atacam as lavouras de soja, a exemplo da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis).
Com a introdução dos genes Bt na planta, ela também passa a expressar essas proteínas inseticidas. Ao se alimentarem da planta Bt, as lagartas-alvo ingerem a proteína inseticida e acabam morrendo. Essas proteínas não possuem qualquer efeito nocivo sobre outros organismos e sobre o homem.
Muito antes da introdução do seu gene na planta, a própria bactéria já era usada em formulações de bioinseticidas pulverizados nas mais diversas lavouras, inclusive nas orgânicas.
Como a soja Bt contribui no manejo de insetos?
A soja Bt, juntamente com outras culturas resistentes a insetos, tem se mostrado uma aliada dos agricultores na busca por uma lavoura mais protegida e, consequentemente, mais produtiva. No Brasil, desde a introdução das sementes de soja geneticamente modificadas (GM) em 1998, ano da aprovação da primeira soja transgênica (uma variedade tolerante a herbicida), o manejo da lavoura de soja mudou drasticamente.
Em 2013, foi incorporada a tecnologia de resistência a insetos (Bt) à cultura graças à biotecnologia. As mudanças no manejo da lavoura se acentuaram ainda mais.
As características de tolerância a herbicida e resistência a insetos contribuíram para que a produtividade da oleaginosa, entre 1998 e 2017, aumentasse 43% no País. O número cresceu de 2,3 toneladas por hectare para 3,3 toneladas por hectare. A produção deu um salto ainda maior, de 275% (de 30 milhões de toneladas para 113 milhões de toneladas), segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
SE for levado em conta o aumento da produção nacional, desde a adoção da biotecnologia na lavoura, o Brasil aumentou em 347% a sua produção, em relação a 1999. Na safra 2020/2021, a produção de soja nacional chegou a 137,3 milhões de toneladas.
Pragas controladas pela soja Bt
A soja Bt é altamente eficaz contra alguns dos insetos-praga que atacam as lavouras. Os principais grupos de pragas controladas pelas cultivares Bt são:
Lagartas desfolhadoras
O grupo inclui a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e a falsa-medideira (Chrysodeixis includens). São lagartas que consomem o limbo – parte principal da folha. O ataque reduz a produção da planta da soja. A principal preocupação com essas espécies é a seleção de insetos resistentes à proteína Bt.
Lagartas das vagens
Nesse grupo estão a lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens) e as lagartas do gênero Helicoverpa. Elas atacam as folhas novas e se alimentam de botões florais, flores e vagens da soja. O ataque prejudica diretamente a produtividade das plantas, pois o inseto penetra na vagem e fica escondido.
Broca-das-axilas ou dos-ponteiros (Epinotia aporema)
Entram pelas axilas e formam um cartucho com o trifólio da planta. Depois se movimentam para o caule, bloqueando o fluxo de seiva para as folhas e comprometendo o desenvolvimento da planta. Devido às galerias formadas no caule, o ataque das lagartas pode causar a perda de plantas na lavoura.
Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
Ataca a cultura da soja na fase inicial de desenvolvimento. Alimenta-se do caule e das folhas, o que pode causar murcha, seca e tombamento das plantas. Por sua alta mobilidade, a lagarta-elasmo pode atacar várias plantas e causar grandes falhas nas linhas de plantio, comprometendo o estande da cultura.
Quando o ataque ocorre em plantas maiores, o sintoma observado é o de seca das folhas da região central da planta, também chamado de “coração morto”. Estas lagartas podem se alimentar também da parte externa do caule, deixando galerias visíveis.
Para controlar as pragas que atacam a plantação de soja Bt é necessário monitorar a lavoura por meio de conjunto de técnicas como MIP (Manejo Integrado de Pragas) e MRI (Manejo da Resistência de Insetos), que fazem parte das Boas Práticas Agronômicas. A práticas analisam a situação das pragas e avalia danos e prejuízos.
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Adoção de Soja Bt
A soja Bt teve sua primeira adoção no território nacional em 2013. Dos 17 eventos de soja transgênica aprovadas até setembro de 2018, quatro deles possuem a tecnologia Bt. A adoção da cultura é vantajosa para o agricultor por sua eficiência no controle de pragas.
A proteína inseticida, por ser produzida pela própria planta, está presente desde o início do até o final do ciclo da cultura. Além disso, essa permanência evita a lavagem pela água ou degradação pela luz, como ocorre com formulações de inseticidas químicos convencionais.
No entanto, para continuar usufruindo dessa tecnologia, os produtores devem empregar as Boas Práticas Agronômicas Caso o agricultor não faça isso, a consequência pode ser a seleção de pragas resistentes e um futuro incerto para o controle de pragas por meio dessa tecnologia.
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Manejo da Soja Bt
O manejo correto da soja Bt é essencial para manter a produtividade no campo.
Primeiramente é realizada a dessecação pré-plantio, que é a dessecação feita antes do plantio. Essa técnica evita que outras culturas antecessoras, plantas daninhas e voluntárias presentes no ambiente, hospedem pragas que possam atacar a plantação em suas fases iniciais de desenvolvimento.
Além disso, o agricultor deve ter certeza, antes de qualquer prática, de que está utilizando sementes de boa qualidade, com bom vigor e isentas de agentes infecciosos que possam comprometer a plantação.
É recomendável também realizar o tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas. Dessa forma, as sementes ficam protegidas de organismos infecciosos e de outras pragas que a tecnologia Bt não controla.
É essencial também que o produtor faça a adoção do refúgio agrícola, ou seja, a plantação de uma porcentagem de soja convencional entre a soja Bt, visando prevenir ou retardar o crescimento da população de pragas resistentes. Esse processo garante sustentabilidade no sistema de produção e rentabilidade.
Adoção do Refúgio Agrícola
Recomenda-se, para adoção de áreas de refúgio, que 20% da área total plantada seja com soja não Bt. Essas áreas deverão ser manejadas para controle insetos, porém, sem o uso de formulações à base de Bt.
A prática permite que insetos não resistentes à bactéria sobrevivam, cruzem com os resistentes e gerem descendentes que continuarão sendo sensíveis à tecnologia, preservando-a.
O controle de plantas daninhas também é essencial. Essas plantas podem hospedar insetos-praga permitindo que uma grande quantidade sobreviva e ataque a plantação.
Outra prática recomendada é o monitoramento que indica a situação das pragas. A prática permite avaliar os danos e prejuízos e ajuda a definir quando o defensivo deverá ser aplicado.
Benefícios da Soja Bt
A plantação de soja Bt traz benefícios ao agricultor e também ao meio ambiente. Os principais são:
Eficiência no controle de pragas
O agricultor diminui os gastos com inseticidas para o controle de insetos-praga. Isso traz vantagens como redução de custos e tempo, já que não será preciso fazer várias aplicações;
Economia de água e de combustível
Como o agricultor não precisará aplicar inseticidas com a mesma frequência, usará menos água para diluir esses produtos, o que diminui a utilização do trator na lavoura. Isso reduz o uso de combustível, resultando em menos poluição do ar, de rios e do solo;
Outras culturas Bt
No Brasil, além da soja, milho, algodão e cana também contam com a tecnologia Bt para ajudar no combate às pragas e, consequentemente, manter ou aumentar a produtividade da lavoura.