Um estudo recente conduzido na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) verificou que a evolução da resistência a uma determinada tecnologia Bt pode comprometer outras tecnologias Bt. Para evitar a evolução da resistência a adoção de áreas de refúgio é essencial para a manutenção dos benefícios dessa tática de controle.
A Spodoptera frugiperda foi a praga utilizada para a realização do estudo. Ela é conhecida como lagarta-do-cartucho e por possuir grande capacidade de danos a lavouras milho e algodão, culturas nas quais a tecnologia Bt vem sendo usada amplamente como ferramenta de controle dessa praga. No entanto, no caso do milho, a baixa adoção de áreas de refúgio para o manejo da resistência favoreceu a evolução da resistência de S. frugiperda às proteínas Cry1F e Cry1Ab.
Para a pesquisa da ESALQ foram selecionadas várias linhagens da S. frugiperda resistentes a diferentes tecnologias de milho Bt e, posteriormente, foi avaliada a sobrevivência dos insetos resistentes, suscetíveis e heterozigotos (descendentes do acasalamento entre resistentes e suscetíveis) em tecnologias de milho e algodão Bt cultivadas no Brasil.
Como esperado, as lagartas resistentes apresentaram alta taxa de sobrevivência nas respectivas tecnologias de milho Bt em que foram selecionadas. No entanto, lagartas resistentes a proteínas da família Cry1 e Cry2 apresentaram mortalidade completa quando expostas a plantas expressando a proteína Vip3A, e vice-versa. Além disso, os insetos resistentes a proteínas Bt expressas em milho também apresentaram alta taxa de sobrevivência em algodão Bt que expressava as mesmas proteínas Bt, ou proteínas similares. Houve também mortalidade completa de lagartas suscetíveis e uma alta taxa de mortalidade de heterozigotos em todas as tecnologias de milho e algodão Bt testadas.
Esses resultados demostram que, em geral, a resistência de S. frugiperda a tecnologias de milho Bt cultivadas no Brasil é funcionalmente recessiva, devido à alta taxa de mortalidade dos heterozigotos. A mortalidade dos heterozigotos suporta a adoção de áreas de refúgio para o manejo da resistência da lagarta-do-cartucho, pois a sobrevivência dos heterozigotos é um dos principais componentes da evolução da resistência, quando a frequência do alelo de resistência ainda é baixa. Além disso, o estudo mostrou que a resistência de S. frugiperda a proteínas Btexpressas em milho pode também comprometer as tecnologias de algodão Bt devido à similaridade das tecnologias Bt.
Portanto, o cultivo de áreas de refúgio para “fornecer” insetos suscetíveis para o acasalamento com os resistentes que poderão sobreviver na área de cultivo Bt é essencial para o manejo da resistência de S. frugiperda a plantas Bt, e assim, preservar ou prolongar a durabilidade dessa tática de controle de pragas.