Por Luna D’Alama
Um desafio nacional para premiar, anualmente, os recordistas em produtividade de algodão do País, a exemplo do que o Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) faz há quase uma década, é o novo projeto da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A ideia é realizar uma reunião plenária sobre o tema em até 30 dias e preparar o concurso já para 2018.
“A primeira edição será já no próximo ano se as associações regionais [como Abapa, Ampa, Amapa, Amipa e Agopa] e todo o elo da cadeia concordarem com a proposta. Em três meses, acredito ser possível estruturar o plano, e boa parte do que já vem sendo feito na soja poderá ser transferido para o algodão”, afirma o engenheiro agrônomo Celito Breda, diretor da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e representante da Abrapa no 11º Congresso Brasileiro do Algodão, em Maceió, onde falou sobre o assunto e mostrou números da cadeia produtiva nacional.
Segundo o especialista, que planta a commodity na Bahia e no Piauí, a meta é envolver 100% dos agricultores. O foco serão os maiores produtores de Estados como BA, MT, MS, GO, MG e SP. “O ideal é abranger os cerca de 500 grupos de produtores que tocam todo o algodão tecnificado [que usa alta tecnologia] no Cerrado. Mas com 100 deles já cobriríamos 70% da área cultivada”, diz Breda, que conta com a consultoria do presidente do CESB, Nery Ribas.
O diretor da Abapa enfatiza que os agricultores do Cerrado têm equipe técnica qualificada, bons resultados e podem transmitir seus conhecimentos aos pequenos produtores. “Por que alguém produziu tanto? Por que aquele não produziu como o esperado? O que faltou? Precisamos entender essas variáveis, e temos uma equipe preparada para isso. Vamos quantificar acertos, padronizar protocolos e trocar informações”, destaca.
Assim como o CESB faz após seu Fórum Nacional de Máxima Produtividade, a Abrapa deve coordenar encontros regionais, levando cada um dos campeões para circular pelos Estados com seus cases de sucesso.
Até 400 arrobas por hectare
Breda explica que a Abrapa deverá criar diferentes categorias, como algodão safra, safrinha, irrigado e de sequeiro. E o desafio pode abranger talhões de 10 a 20 hectares, como ocorre no CESB. A expectativa é obter uma média de produtividade acima das 300 arrobas por hectare. “O Brasil tem uma das melhores médias mundiais de produtividade de algodão. A Bahia, por exemplo, alcançou média de 310 arrobas por hectare de algodão em caroço este ano, um recorde histórico em mais de duas décadas. Alguns produtores já fecham áreas com 400 arrobas/ha. Isso, há dez anos, a gente conseguia em 1% a 2% do total plantado. Hoje chegamos a esse patamar em 20%, 25% da lavoura”, ressalta o representante da Abrapa.
Ele reconhece que não é fácil manter médias excelentes a longo prazo, mas espera que seja possível aumentar a média atual. “Por isso, falo sempre sobre a importância de escolher bem as variedades, monitorar o terreno e treinar o pessoal. Evoluímos bastante no manejo do bicudo-do-algodoeiro e da Helicoverpa armígera, mas ainda temos alguns desafios em relação a pragas como a mosca-branca e a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Não podemos falar em bons resultados tendo problemas de infestação de mosca-branca na BA, no MT e no MS”, aponta.
Para Breda, os bons resultados já obtidos são creditados às boas práticas agronômicas. “Cresceu muito a adoção das boas práticas, principalmente na área fitossanitária, para fazer um manejo correto do bicudo, da mosca-branca, na questão da fertilidade, já há todo um cuidado diferenciado para cada variedade”, enumera.
De acordo com o diretor da Abapa, porém, ao contrário da soja, existe um risco financeiro maior no caso do algodão. “Você investe até quatro vezes mais por hectare, considerando toda a cadeia. Mas a rentabilidade pode chegar a cerca de US$ 2 mil/ha, com taxa de retorno acima de 50%”, pondera.
A área total de algodão cultivada no Brasil já chega a quase um milhão de hectares, e a produção na safra 2016/2017 foi de 1,4 milhão de toneladas em pluma (que tem maior interesse para exportação e amplo uso na indústria têxtil) e 3,7 milhões em caroço, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). A safra 2017/2018 começa a ser plantada por volta da segunda quinzena de novembro.
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