A busca por tecnologias para proteção das lavouras é uma constante no agronegócio e a pulverização aérea é uma das formas de aplicação de defensivos agrícolas. A aplicação de produtos químicos ou biológicos pode ser feita por aviões agrícolas, helicópteros e drones. Mas, não é apenas preencher o tanque de um desses equipamentos e sair aplicando insumos por aí. Para realizar a pulverização aérea é necessário cumprir uma série de exigências, envolvendo desde os trabalhadores às máquinas utilizadas e a seleção dos defensivos mais adequados de serem aplicados.
Portanto, para se controlar os riscos de contaminação do meio ambiente e da saúde humana e animal, diversos procedimentos devem ser adotados. Para entendermos melhor desse assunto, conversamos com o engenheiro agrônomo e consultor em tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários, Henrique Campos.
Por que precisamos usar a pulverização aérea?
A manutenção da produtividade de cultivos em larga escala depende do uso de aeronaves para que se possa controlar as pragas de maneira efetiva e rápida. É importante mencionar que a aplicação aérea seja de fertilizantes, de sementes ou de produtos fitossanitários, pode ocorrer, por exemplo, em condição de solo com alta umidade onde não poderia acontecer translado de máquinas.
Como você se interessou pela pulverização aérea?
A minha história com o uso de produtos fitossanitários e sua importância começou por
volta dos anos 2000/2001 quando minha família trabalhava com produção de soja e nos deparamos com uma devastação da lavoura causada por uma doença chamada ferrugem asiática causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, nos anos 2001/2002). Não só nós fomos atingidos, mas também os nossos vizinhos.
A partir daí surgiu o interesse em saber como esses produtos podem ser utilizados. Com o passar desse período, tive oportunidade de estudar agronomia, com mestrado e doutorado focado nessa área e, hoje, conduzo um trabalho chamado clínica de aeronaves em todo o Brasil.
No que consiste a clínica de aeronaves?
Como profissional da área, tenho oportunidade de visitar diversas universidades e países que usam a ferramenta de aviação agrícola para o controle de pragas e doenças. Com a clínica de aeronaves, conseguimos mostrar para o agricultor a importância de caracterizar sua aeronave – um documento que mostra se os parâmetros exigidos para uma aplicação com qualidade, com segurança ambiental e social estão sendo atendidos. Os parâmetros contemplam desde o tamanho de gota correta, faixa de aplicação adequada, altura do voo adequada para a condição meteorológica, entre outros aspectos importantes para que esse produto seja colocado no alvo.
O que pode dificultar a pulverização aérea?
Na maioria dos países onde há uma produção em larga escala, como o Brasil, Estados Unidos, Canadá, Argentina e Austrália, acontece um fenômeno que está fora do nosso controle: as alterações das condições meteorológicas. Temperatura ambiente, umidade relativa do ar, incidência de ventos têm impacto direto na qualidade da aplicação aérea e no risco dessas gotas se perderem, ou mudarem sua trajetória.
Como essas condições mudam ao longo do dia, precisamos selecionar o momento meteorológica mais oportuno e conduzir o tratamento fitossanitário. O resultado disso é melhor no ponto de vista de controle e, também do ponto de vista de impactos ambientais.
Qualquer aeronave pode ser usada na pulverização aérea?
A aplicação aérea possui uma série de normas e exigências. Uma aeronave que é usada para aplicação de produtos fitossanitários deve seguir normas do ponto de vista de limpeza, descontaminação, das pessoas envolvidas, do uso de equipamento de proteção individual e outras particularidades. Essa é uma grande vantagem quando a gente pensa em sustentabilidade.
Se pode utilizar a pulverização aérea por meio de aeronaves para qualquer cultura?
As aeronaves agrícolas podem ser usadas para a maioria dos cultivos comerciais. A necessidade de ter um avião, normalmente é vinculada a uma área determinada -geralmente áreas maiores que exigem uma aeronave, pois falamos de 50 metros por segundo ou 10 hectares por minuto tratado. Uma eficiência muito grande.
Independentemente do tipo de cultura, se exige uma área mínima para que o avião seja adotado. No entanto, mesmo em áreas pequenas, ele tem sido adotado pela necessidade de um controle mais rápido. Então, não é porque um agricultor ou um pecuarista tem uma área menor que ele não possa utilizar uma aeronave agrícola. O único alerta que é importante é o responsável, o engenheiro agrônomo, o coordenador em aviação agrícola ou o técnico executor em aviação agrícola verificar se aquele produto fitossanitário é registrado para aquela cultura já que a aviação agrícola é regulamentada e segue normas superexigentes. Por exemplo, cada aplicação deve ser registrada no formato de um relatório que fica até 5 anos arquivado para poder ser verificado junto as autoridades em caso de uma fiscalização.
Quais são os tipos de aeronaves utilizadas?
Dentre as opções que existem na aviação agrícola para aplicação aérea, podemos mencionar as aeronaves de alta e de baixa velocidade. Em seguida vem os helicópteros e, por último os drones. As aeronaves mais velozes – como Air Tractor e Thrush, são utilizadas quando se tem uma área muito grande a ser tratada e um curto espaço de tempo. As de velocidade um pouco menor (como Embraer Ipanema), podem ser usadas em áreas grandes, mas por conta da capacidade do tanque ser menor, são posicionados em áreas menores.
As aplicações com helicópteros são muito interessantes do ponto de vista de áreas que não têm uma pista de pouso. São muito utilizados em locais de pastagens onde se busca o controle de plantas daninhas assim como insetos-pragas. O helicóptero é boa ferramenta já que com uma menor velocidade de aplicação se consegue, por exemplo, deixar para desviar de uma árvore, com maior proximidade.
O que podemos dizer sobre os drones?
Do ponto de vista do drone, é importante entender onde essa ferramenta surgiu. Na Ásia, China, Filipinas – onde se iniciou o uso de drones, seu propósito era de substituição da pulverização costal manual em plantações de arroz alagada até a cintura. O drone é o nosso primeiro robozinho para aplicação de produtos fitossanitários. Mas, devido essa característica de aplicação de menor velocidade e de aplicações pontuais possui menor capacidade de armazenar o produto.
O drone também pode ser utilizado parra se fazer uma mapeamento prévio sobre uma lavoura grande e realizar a aplicação apenas onde existem necessidades, sem atrapalhar outras práticas que estejam ocorrendo na propriedade.