Por Luna D’Alama
Grande aliada do Sistema de Plantio Direto (SPD), a rotação de culturas é uma boa prática agronômica que consiste na alternância planejada de espécies em determinada área. Especialistas a consideram uma forma eficiente de reduzir os impactos ambientais provocados pela monocultura, melhorando as condições físico-químicas e biológicas do solo no longo prazo. Além disso, ela reduz a incidência – e confere um manejo mais eficiente – de doenças, plantas daninhas e pragas (favorecendo a quebra do ciclo de vida delas).
Segundo o especialista em Fitopatologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Luiz Gonzaga Chitarra, intercalar o plantio de soja-algodão-soja ou soja-milho-soja não é fazer rotação, mas, sim, uma sucessão de culturas, favorável ao desenvolvimento de insetos-praga, patógenos e plantas daninhas. Por definição, a sucessão de culturas não implica a alternância regular e ordenada de espécies, algo imprescindível na rotação. “Não precisa rotacionar a área toda, dá para começar aos poucos. Quando o produtor não adota essa prática, prejudica o sistema produtivo e seu próprio negócio”, destaca.
Os benefícios da rotação na agricultura crescem ao longo do tempo e são sentidos em um melhor aproveitamento das plantas no solo, acrescenta o engenheiro agrônomo e consultor do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) José Magid Waquil. “Ela aumenta a disposição de matéria orgânica, o que favorece a capacidade de retenção de umidade no solo e um maior aprofundamento das raízes”, explica.
Com o passar dos anos, o produtor ainda obtém um melhor desempenho das cultivares utilizadas, pela maior eficiência na absorção de nutrientes e menor sensibilidade dessas plantas a estresses de umidade, por exemplo. “Além disso, há uma queda nos custos de produção, pela redução de infestações e infecções e, consequentemente, do uso de defensivos agrícolas”, afirma Waquil.
Ação preventiva
Na visão do engenheiro agrônomo José Laércio Favarin, professor e pesquisador do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), a rotação de culturas deve ser uma prática preventiva, e não adotada apenas quando já existe um problema instalado. “Essa não é uma decisão imediatista. E todo novo comportamento exige uma mudança cultural”, avalia.
No Brasil, a rotação é mais empregada na Região Sul, em parte do Mato Grosso do Sul e no oeste de Goiás, de acordo com Favarin. “A princípio, é possível rotacionar qualquer cultura, mas quem define essa diversidade e o limite é o produtor, tendo em vista sua capacidade de gerenciamento e o interesse comercial das variedades”, diz o professor da ESALQ-USP.
Waquil recomenda a rotação de plantas de diferentes grupos, como leguminosas (soja, feijão, grão-de-bico, lentilha, ervilha, amendoim) e gramíneas (milho, trigo, arroz, sorgo, pastagem). E Favarin complementa que, se o problema da lavoura forem doenças, como o mofo-branco no caso da soja, uma rotação “fantástica” é plantar milho e braquiária (capim).
Para o pesquisador e assistente técnico para boas práticas agrícolas e altos rendimentos Dirceu Gassen, a rotação de culturas é um dos pilares mais importantes que mantêm a diversidade vegetal, animal e de microrganismos, além do controle biológico natural. “É uma prática essencial em um sistema sustentável de produção de alimentos”, ressalta.